quarta-feira, 29 de abril de 2009

ESTILO

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**********************************************************************ANDAR leve
. E, sem que o vílico tomasse permissão do senhor, o alçapão da levadiça rangeu nas correntes de ferro, ribombou cavamente nos apoios de pedra. Quem assim chegava em dura pressa era Mendo Pais, amigo de Afonso
II e mordomo da sua cúria, casado com a filha mais velha de Tructesindo, D. Teresa aquela que, pelo ondeante e alvo pescoço, pelo pisar mais leve que um voo, os Ramires chamavam a Garça Real.
***********************************************************************ESCREVER veloz e com leveza - Capítulo III
Durante a longa semana, nas horas da calma, o Fidalgo da Torre trabalhou com aferro e proveito. E nessa manhã, depois de repicar a sineta no corredor, duas vezes o Bento empurrara a porta da livraria, avisando o Sr. Doutor «que o almocinho, assim à espera, certamente se estragava». Mas de sobre a tira de almaço Gonçalo rosnava «já vou!» — sem despegar a pena, que corria como quilha leve em água mansa, na pressa amorosa de terminar, antes do almoço, o seu Capítulo I.

☼MMMMM☼
MACACO
*******************************************************************************MÃOS (posição das – nervosismo concentração em algo que a admira) – Ela olha, olha fixamente, as mãos crispadas sobre a sacada., 1. (som), 2f. [Stefen Zweig – A Embriaguês da Metamorfose, 1. (som), 2f.]

*************************************************************************MARMELADA, SENSUALIDADE –
1.
(…)
Quem sabe, talvez estejam a dormir, e podia parecer estranho chamar a estas horas da noite por causa de umas folhas de papel… Dou um salto lá abaixo e trago algumas do salão, desde que não esbarre com Edwin... A tia tem razão, é preciso manter as distâncias… será que ele se permite fazer com outras o que fez esta tarde no carro… pelas pernas acima, não percebo como é que pude tolerar… devia ter-me afastado e proibi-lo… só o conheço há alguns dias. Mas fiquei paralisada, incrível numa pessoa sentir-se de repente tão fraca, sem vontade própria, quando um homem nos toca assim?... Não, apesar das suas afirmações ousadas e das suas histórias extravagantes, elas nunca o dirão… Devia ter feito qualquer coisa, senão ele vai acreditar que lhe tolero tudo…ou vai imaginar que é isso que eu quero. Assustador, aquele estremecimento até aos dedos dos pés… se ele o fizesse a uma jovenzinha, compreendo que ele perdesse a cabeça… a maneira como ele me agarrava de repente o braço nas curvas… quando penso como ele… os dedos dele são tão delicados, nunca vi um homem com umas unhas tão bem tratadas, e no entanto quando agarra uma pessoa, dir-se-i que são tenazes de aço… ele será assim com todas as raparigas? Provavelmente… Tenho que o observa da próxima vez que esteja a dançar.
2
(…)
[Stefen Zweig – Embriaguês da Metamorfose, 38, 2º., 7f.]
...
Antes de ter tempo de recuperar o fôlego ou de dizer alguma coisa o automóvel arranca bruscamente, e neste primeiro solavanco que a atira para trás, sente-se já beijada, apertada. Quer defender-se, faz sinal inquieto, na direcção do motorista, discreto, imóvel, as costas por detrás do volante formando um vulto sombrio. Tem vergonha da presença desta testemunha mas, por outro lado, sabe que graças a ela está segura quanto ao pior. O homem a seu lado continua mudo. Um abraço quente, violento, envolve-a, sente as mãos dele sobre as suas, sobre os seus braços, agora sobre os seios, uma boca brutal dominadora procura a sua e, ardente, húmida, abre-lhe os lábios que cedem a pouco e pouco. Inconscientemente quis, esperou tudo isto: o abraço brutal, a torrente louca de beijos no pescoço, nos ombros, nas faces, o ardor sobre toda a sua pele que estremece e a necessidade de não fazer barulho por causa da testemunha aumenta de certo modo a embriaguez do jogo apaixonado. De olhos fechados, não encontrando palavras nem vontade para se defender, deixam que os beijos abafem os gemidos da sua boca, e todo o seu corpo se arqueia e vibra neste prazer colhido nos lábios. Isto está a acontecer, desde quando? Para além do espaço e do tempo e acaba bruscamente quando, depois de um toque de buzina, advertência do motorista, o carro entra na rua iluminada e pára frente ao bar do Grande Hotel.
Perturbada, hesitante, envergonhada, desce, alisa rapidamente o vestido amarrotado, arranja os cabelos despenteados pelos beijos. As pessoas não irão notar? Mas não, ninguém a olha especialmente na penumbra do bar, cheio de gente, conduzem-nos até uma mesa. Nova descoberta: o domínio impenetrável que pode ser a vida de uma mulher, o domínio com o qual a máscara do saber-viver mundano dissimula a mais apaixonada das emoções. (…) Quantas mulheres antes de mim dissimularam também os seus sentimentos, pensa, estupefacta, quantas das que conheço na minha terra, na aldeia? (…)
Este homem sólido, viril, deseja-me, a mim, e ninguém sabe, excepto eu. «Vamos dançar?», pergunta ele. «Sim», responde e há muito mais neste «sim». Pele primeira vez a dança já não lhe basta e o contacto comedido é apenas o prelúdio para um enlace mais ardente, sem restrições. Tem que se dominar para não se trair abertamente. (…)
No automóvel, cai naturalmente nos seus braços. Entre os beijos a voz dele torna-se naturalmente mais premente. Que vá só por uma hora ao seu quarto, fica no mesmo andar do dela. (…)
E então deixa-se cair num sofá; um suspiro de alívio: salva! [Stefen Zweig – A Embriaguês da Metamorfose, 72, 2º., 21f.]
3.
(…)
Rodou a maçaneta, deu dois passos atrás enquanto abria a porta e via, sem verdadeiramente ver, Luís Bernardo que entrava, sem dizer nada. Fechou-a logo, fechou instintivamente o fecho de segurança e encostou-se à porta demorando um longo instante antes de olhar para ele. Achou-o lindo, vadio, inacessível. Vestia um fato todo preto com camisa branca de colarinhos altos e uma gravata verde-damasco, com um nó discreto e um pequeno alfinete de intha o cabelo preto desalinhado e ligeiramente comprido, próprio dos homens eu têm o hábito de se pentearem com os dedos, um bigode fino prolongando-lhe o tamanho da boca e uns olhos castanhos líquidos que sorriam com um ar de conquistador, mas um conquistador com qualquer coisa de infantil, de garoto de rua a quem tinham dado um presente. Contra tudo o que tinha planeado friamente, não conseguiu evitar um sorriso ao olhar para ele. Mas era um sorriso, não para ele, mas para si própria: ”De todos os homens do mundo, Matilde, este é seguramente o último em quem uma mulher poderá confiar”
Ele estendeu-lhe as mãos e ela deu-lhe as suas, naturalmente. Ele sorriu e ela sorriu também, outra vez o mesmo sorriso, que ele não conseguiu decifrar ao certo. Ainda em silêncio, ficaram a olhar um para o outro, de mãos dadas, sem saberem como se quebrava aquele momento. Depois, ele puxou-a par si, mas ela evitou-lhe a boca e a cara e encostou-se apenas ao seu ombro suavemente. Ele insistiu, mas ela não descolou a cara do ombro dele.
- Matilde…
- Não diga nada, Luís, não diga nada, agora…
- Mas eu tenho uma coisa para lhe dizer, Matilde.
- Também eu tenho, todos temos coisas para dizer, mas agora queria só ficar assim um bocado…
Matilde sentiu-o a ficar desconfortável naquela posição: nenhum homem se sente confortável 26 durante muito tempo em pé e uma mulher nos braços. Apertou-a contra si e ela pôde sentir como os seus corpos se ajustavam bem um ao ouro. Percebeu que ela devia estar a sentir o mesmo, que o peito dela se tinha encostado completamente ao dele, eu estava à beira de se deixar ir. Fechou os olhos quando ele lhe puxou a cabeça para trás e às escuras deixou-o mergulhar na sua boca e ficar lá dentro enquanto os braços lhe pendiam ao longo do copo e a mão que a enlaçava pela cintura a esmagava conta o corpo dele.
Luís Bernardo recuou com ele até à borda da cama, sem nunca lhe largar a cintura nem a boca. Sentou-se na cama e ajoelhou-se a seus pés, só então interrompendo aquele beijo interminável. Colocou-lhe as mãos abertas sobre o peito dela, sem brusquidão nem pudor, como um menino que desfruta o seu brinquedo. Com uma mão desfez-lhe o laço da blusa e começou lentamente a abri-lhe os botões. Matilde ainda não tinha aberto os olhos, não queria ver agora o seu peito for da camisa, as mãos dele que o exploravam impudicamente e depois o calor húmido da sua língua a lamber-lhe os bicos do peito. Estava nua, exposta, entregue. Não resistiu mais, pôs-lhe a mão na nuca sentindo o cabelo fino entre os dedos e puxou-o mais contra o peito. Estava nua, exposta, entregue. Não resistiu mais, pôs-lhe a mão na nuca sentindo o cabelo fino entre os dedos e puxou-o mais contra o peito.
- Oh meu Deus!
- Matilde – ele levantara a cabeça agora – tenho de lhe dizer uma coisa e tenho de lha dizer j´: é possível que eu tenha de partir daqui.
- Agora? - ela abrira finalmente os olhos e tentava perceber o que ele queria dizer.
- Não, agora, não. É possível que tenha de partir de Portugal dentro de dois meses e por uns três anos.
- Mas para onde, Luís, e porquê?
- Não lhe posso dizer tudo, Matilde, estou obrigado por um dever de confidencialidade. Só lhe posso dizer que é paras. Tomé e Príncipe e numa missão do Estado. Não lhe posso dizer mais nada mas prometi a mim e ao João que lhe diria isto antes que alguma coisa de irremediável acontecesse ente nós.
- Alguma coisa de irremediável? Mas o que tem remédio a partir de agora?
Ele ficou calado a olhar para ela. Não sabia o que dizer. Não tinha imaginado que as coisas se passassem assim.
- Irremediável, Luís? – agarrou-o pela cara com ambas as mãos, como se quisesse forçá-lo a olhá-la de frente. Irremediável? Estou aqui, escondida num quarto de hotel como um salteador , seminua, completamente abandonada nos seus braços, apaixonada como só assim poderia estar aqui, e você acha que isto tem remédio? Como? Interrompemos esta cena até sabermos se se v ai embora de Portugal e, caso não vá, recomeçamos , então, no mesmo ponto em que a deixámos?
- Oh, não, meu amor! Só queria dizer-lhe que faço o que você quiser, só o que quiser
- Então faça, Luís. Faça tudo o que eu quero, tudo o que nós dois queremos. A partir daqui, para mim, pelo menos, já tudo é irremediável.
Luís Bernardo era o segundo homem da sua vida. Estava casada há oito anos, nunca conhecera outro homem, nem nunca pensara vir a conhecer. Luís Bernardo era o segundo homem que a beijava, que a despia, que lhe percorria o corpo todo com as mãos e com a boca, o segundo homem que ela via nu, cujo corpo tocava, primeiro envergonhadamente, depois possessivamente, como se quisesse decorá-lo para sempre. Deitada de costas na cama, deu consigo estupidamente concentrada nas flores do papel de parede do quarto, nas cores das portadas da janela, no desenho do toucador onde os objectos de toilette familiares lhe lembraram de repente que era ela que estava ali, apesar de lhe parecer impossível que fosse ela que se entregava nua, que gemia de prazer para dentro, que abria sem querer as pernas para um homem que não era o seu entrasse dentro de si. Sentia-se perdida de si mesma, à deriva, caindo dentro de um poço sem fundo, ela era o poço e aquele homem tocou no fundo, tudo era húmido, tudo era líquido e tudo acabava nos seus olhos rasos de lágrimas e na dor funda com que lhe cravou as unhas nas costas, com que o agarrou pelos cabelos e gritou baixinho, como se ele pudesse salvá-la:
- Luís Bernardo! Luís bernardo!
‘Miguel de Sousa Tavares’
“EQUADOR”
4.
(...)
David era um jogador, gostava de todos os jogos, desde os jogos de mesa aos jogos de cama, do primarismo animal dos jogos de caça à subtileza intelectual dos jogos de palavras em conversas de salão. Introduzira Ann no conhecimento e no deleite das gravuras em pedra e aguarelas sexuais hindus e não foi preciso muito para que, à luz de velas espalhadas pelo chão do quarto e numa alcova coberta por uma rede mosquiteira que acentuava Aida mais o erotismo do ambiente, eles começassem a ensaiar as reproduções de todas as posições que tinham visto nos frontispício dos templos e dos livros antigos que ele coleccionava. Ann conheceu em minúcia todos os centímetros. Do corpo dele que lhe tinham ensinado poder espreitar apenas de olhos semicerrados e disfarçadamente e conheceu os limites do seu próprio prazer que tinha aprendido serem inexistentes e, aliás, entediantes. Quanto a David, sabia-se olhado com um misto de maledicência e de inveja, quando se despedia dos colegas de gabinete ao fim do dia e se dirigia para casa onde o esperava uma espécie de prazer e de desvario sexual que não era suposto um homem da sua condição encontrar senão fora de casa e com mulheres especialmente treinadas para essa tarefa.
‘Miguel de Sousa Tavares’
“EQUADOR”
5. - E que crime cometeu você, Ann, para vir aqui parar também? Perguntou Luís Bernardo.
- Ah, eu não,mas o meu marido,sim. Prometi que ia falar sem hipocrisias ,por isso, conto-lhe o essencial: o David cometeu uma terrível asneira a Índia, um imperdoável passo em falso, e daí ter vindo a S. Tomé, o mais obscuro lugar que havia disponível a toda a carreira dos grandes servidores do grande Império Britânico. Qualquer mulher no meu lugar o teria deixado, pelo vexame que ele me trouxe e pelo destino que me estava reservado de futuro, ao lado dele. Mas eu admiro muito o meu marido apesar do que ele fez e que não apaga nem faz esquecer tudo o resto e o homem brilhante que ele foi e é. Amei-o muito até ele me magoar ao ponto em que o fez e amo-o ainda de uma forma diferente, longínqua e íntima que não sei explicar bem. Poderia tê-lo abandonado, mas achei que não devia fazê-lo quando tudo o resto e todos os outros o fizeram. como vê, também não sou imune aos sentimentos do dever. Mas ficou claro entre nós que eu sou uma presença constante ao seu lado, sou uma mulher ainda face ao mundo e à lei, mas não sou, senão quiser, sua mulher de facto. É o preço que ele paga por me ter aqui. Sou uma mulher livre como se fosse uma viajante que desembarcou com ele em s. Tomé, onde... - Ann deteve-se um momento e fixou-o a direito nos olhos - ... onde o encontrei a si.
Ficaram calados, a olhar um para o outro. ele estava ainda sentado na cadeira, ela continuava de pé, encostada à balaustrada, de costas para o mar e para o luar. Ele estava na sombra, ela estava na luz, exposta. Luís Bernardo estendeu as mãos na direção dela. Lentamente, Ann levantou-se e caminhou até ele, até à sombra onde permanecia, sem se mexer, nada mais do que as mãos estendidas num chamamento mudo. De onde estavam, agora não eram visíveis de dentro da sala e ouviam as vozes de David e João que prosseguiam a sua interminável discussão com David, apenas para lhe dar tempo e oportunidade para fazer daquela a mais decisiva das suas noites, passadas e futuras, em S. Tomé. E foi a última coisa em que conseguiu pensar até que sentiu a macieza da cara dela encostando-se suavemente à sua, o volume do seu cabelo levemente perfumado roçando-lhe a face, o corpo que se encostava ao seu, pedaço por pedaço, o peito,inchado e ofegante, de encontro ao seu. Teve tempo de a olhar e ver o verde líquido dos seu olhos, onde parecia refletir-se a lua, a apagar-se devagar enquanto ela fechava os olhos e lhe entregava uma boca húmida, ávida, com a língua quente percorrendo-lhe os dentes, e enrolando-se na su própria língua, o corpo quase esmagado contra o seu, num desespero de paixão ou de desejo como antes mulher alguma se lhe entregara. E ele mergulhou, também de olhos fechados, naquela boca e naquela paixão, durante um tempo que lhe pareceu uma eternidade, até ao limite do sustentável.
‘Miguel de Sousa Tavares’
“EQUADOR"
6.
(…). Outra vez sozinho, João? (:::)
- É que alguém me disse , outr dia, que em tudo o que dependesse de si eu nunca ficaria sozinho
Luís, há uma coisa, uma coisa só que você tem de saber sobre mim e que tem de acreditar: Eu não minto, não finjo nunca e não esqueço o que disse por mais fácil que fosse desculpar-me com as circunstâncias ou os momentos. Está tudo nas suas mãos. Luís, olhe bem para mim, estamos aqui na praia à vista de toda a gente, não estamos sozinhos no terraço de sua casa, numa noite de lua cheia e depois de beber duas garrafas de vinho e dois Portos.Está tudo nas suas mãos. A decisão é sua.
E afastou-se como se nada de especial tivesse sido dito.
(…)
Pensou em Matilde e no que ela lhe tinha contado sobre a sua nova gravidez e a sua aparente harmonia conjugal, recordou-se dos dois encontros furtivos no hotel Bragança, os gemidos dela entre os seus braços, enquanto lá fora ele distinguia cada ruído que vinha da rua com uma nitidez e uma tal atenção que era quase como se estivesse ausente. Arecordação excitou-o e fê-lo ir tão longe nos seus pensamentos que, quando voltou à realidadejá tinha ultrapassado as últimas casas à saída da cidade e cavalgava gora numa estrada de areia deserta que levava direita até à praia de Micondó.
(…)
Desmontou junto aos coqueiros, atou o cavalo ao tronco de uma árvore e foi caminhando pela areia completamente deserta, ouvindo o chilrear dos pássaros do coqueiral cujo, barulho se sobrepunha claramente ao doce murmúrio das ondas rebentando de mansinho na praia.
(…)
- Que bela imagem! O governador de S. Tomé e Príncipe, em lugar de estar a trabalhar no seu gabinete, toma banho todo nu na sua praia privativa! Quem poderá levá-lo a sério, meu caro governador?
Ann estava sentada a dez passos, exactamente onde ele deixara as suas roupas e reparou que, lá em cima, nos coqueiros, outro cavalo estava amarrado junto ao seu. Era óbvio que tinha feito de propósito para que ele não a visse, enquanto mergulhava debaixo de água.
...
Não, eu sair si, o problema é que, como deve ter reparado, estou integralmente nu.
- Ah, mas isso é uma perspectiva extraordinária! Já viu que coincidência fantástica encontrá-lo a sós, ainda mais numa praia deserta e logo todo nu, dentro de água?
- Parece e de propósito…
- Não, parece é um acto do destino
- Vai-me passar a roupa?
- Pelo contrário: diga-me, como é que está a água?
- Está ótima, está quente.
Sentada na areia ela tirou as botas de montar, com algum esforço e praguejando entre dentes. Depois pôs-se de pé e desabotoou um por um todos os botões da camisa e despiu-a, atirando-a para o lado e mostrando o curto corpete que lhe segurava o peito. A seguir fez o mesmo com os botões deste, retirou as alças de cima dos ombros e libertou-se dele, deixando ver u peito grande, voluptuoso mas firme, com os mamilos redondos e bem salientes Depois e desabotoou as calças de lado e deixou-as deslizar pelas pernas abaixo, sacudindo os calcanhares para lhe saírem pelos pés. Tinha umas pernas longas e perfeitamente desenhadas, num tom de pele mais escuro do que seria de esperar. Quando acabou de se despir por completo e ficou nua, começando a caminhar para a água, Luís Bernardo já não conseguiu continuar aquela devassa muda do corpo dela. Estava a olhar para a cara de Ann e para o seu olhar ela também olhava para ele, exposta, tranquila, só o sorriso de malícia lhe desaparecera e ela contemplava-o de sem nenhuma expressão que não aquele ar de determinação silenciosa, quase premeditação, com que se despira e caminhava ao seu encontro.
Luís Bernardo levantou-se finalmente da água, recebeu-a de pé, corpo contra corpo, sentindo o peito dela que se encostava e espalmava na lisura do seu, as coxas que se fundiam nas suas, a boca que, sôfrega, mergulhava na dele, ficou assim por uns instantes, como que entranhado no corpo dela e depois Ann empurrou-o suavemente pelos ombros e ele desequilibrou-se e caiu para trás, arrastando-a agarrada a si, na sua queda. Emergiram da água de joelhos na areia, Luís Bernardo puxou-a contra si, voltou a procurar a boca dela que agora tinha um gosto a sal e a mel misturados, sentiu a textura da sua língua que percorria a dele sem pudor algum e a fúria com que se lhe entregava começou a fazer-lhe a cabeça andar à roda. Soltou-se da boca dela e começou a beijar-lhe pescoço e os ombros, que eram largos e formando uma linha recta, as mãos procuraram o peito, tão grande que não lhe cabia na palma das mãos. Então, desvairado de desejo, mergulhou a cabeça no seu peito e começou a chupar-lhe os mamilos enquanto com as mãos começava a devassar-lhe o peito ora segurando cada um como se quisesse medir-lhe o peso e a consistência, ora esborrachando-os nas mãos espalmadas. Mas Ann não ficou quieta, não fechou os olhos nem gemeu, nem atirou a cabeça para trás seduzida e vencida. Continuou antes, com a mesma ânsia à procura da boca dele e depois desceu-lhe uma mão o longo do corpo até que, debaixo de água, encontrou o seu sexo que estava rijo e apontado para cima e segurou-o com força, apertou-o com a mão em concha, percorrendo-o para cima e para baixo. Luís Bernardo puxou-a para fora de água, dobrou-a pela cintura junta á areia molhada e fê-la cair de costas no chão. De novo se perdeu no seu peito que o deixava for de si, ora lambendo-o, ora apalpando-o com as mãos bem abertas, ora enfiando no meio dele a cabeça enquanto sentia as suas coxas esmagarem as dela e o seu corpo comprimir-se de encontro à sua barriga.
Esmagavam-se, um contra o outro como animais no cio, entregues pelo mar à areia da praia, para que consumissem o desejo. Todo o tempo Luís Bernardo fora arrastado por aquela onda devastador de desejo, por aquela mulher voluptuosa e linda que se despira e viera ter com ele mar adentro e agora, de repente, sentia que havia de dizer ainda agua coisa, ser alguma coisa mais que um macho preparando-se para cobrir uma fêmea.
- Ann… - começo a falar, sem saber bem o que queria dizer, mas ela atalhou-o logo. Tinha um sorriso tenso na cara, a mesma determinação no olhar, e s suas mãos puxaram-no pela nuca ainda mais de encontro ao seu corpo.
- Schiu, Luís… come. Come to me
A mão dela voltou a procurar-lhe o sexo, segurou-o com força, deslocou-o da sua própria barriga e, arqueando ligeiramente o corpo, abriu as pernas e encaminhou-o para dentro de si. Então ele entregou-se sem mais pensamentos, começou a entrar nela devagar, contendo-se, mas sentiu-a molhada de uma espuma espessa que não era sõ de mar e, com um suspiro quase inaudível, entrou fundo nela, tão fundo que sentiu girar a terra sobre a sua cabeça, sentiu que a areia do chão tremia como o corpo dela, sentiu-lhe a língua salgada, qualquer coisa ainda mais que se abria e que se rasgava para o receber, algures, debaixo da terá, um vulcão adormecido rugiu e ele rugiu também, com o vulcão, com ela, um ronco surdo em que tudo se fundiu de repente numa explosão em que ele quase só via estrelas cintilando no fundo dos olhos, e o azul ou verde dos olhos de Ann servindo de céu a todo aquele caos e, mesmo no segundo antes de se sentir perder e de se deixar ir no mais fundo dela e de si mesmo, teve ainda tempo para um último assomo de lucidez onde lhe surgiu nítida e perfeitamente crua a certeza de eu se perdera para sempre no corpo, no olhar e no abismo daquela mulher.
Muito tempo depois – uma eternidade para quem, como ele, se sentia de repente um criminoso à beira de ser descoberto – Ann soltou-se dos seus braços, pousou-lhe um beijo suave sobre a boca e, suspirando disse:
- Agora tenho de ir.
E começou a vestir-se sem pressa, ele vendo aos poucos aquele corpo de fêmea inteira e perfeita que se ia cobrindo e desaparecendo do seu olhar, mas jamais da sua memória. Caminharam até onde estavam os cavalos, Ann desamarrou o seu, aproximou-se dele com o cavalo pela rédea e de novo encostou o corpo todo ao de Luís Bernardo e deu-lhe um último e prolongado beijo.
‘Miguel de Sousa Tavares’
“EQUADOR"
7.
- Olá, disse ele, estacando no ponto em que a vira.
- Ah, Luís, entre! - ela levantou-se, foi ao encontro dele, pouso-lhe suavemente uma mão de encontro ao peito e deu-lhe um beijo terno e ligeiramente húmido na cara. Ele não se conseguiu impedir de olhar à volta, apreensivo e Ann, adivinhando os seus pensamentos, puxou-o pela mão para a cadeira e disse:
- o David está atrasado, mas deve estar a chegar. Vamos esperar por fora. Um gin tónico?
- Sim, se faz favor.
- Ann desapareceu dentro de casa e ele reparou que, apesar da sua aparente desenvoltura, ela parecia triste, uma sombra qualquer turvando o brilho habitualmente luminoso, do seu olhar. Sentou-se nas confortáveis poltronas de verga almofadadas que,como muitas outras coisas ali na casa, tinham vindo com eles da Índia. havia armário,mesas, loiças, jarras, espingardas de caça e lanças, fotografias da Índia espalhadas por todas as salas de baixo, com se aparentemente se quisessem convencer a si mesmos que um pouco da Índia tinha vindo com eles até ali e que um dia, levados pelo mesmo mar que os tinha trazido, eles e todas aquelas coisas regressariam à vida que tinha sido sua. havia uma saudade indizível, uma tristeza suspensa como poeira no ar, naquela casa. Talvez a mesma tristeza que hoje lhe parecera morar nos olhos de Ann.
Ouviu os passos dela vindos lá de dentro e pôs-se de pé para receber. Trazia dois copos, um para cada, estendeu-lhe o dele e tocou-lhe ao de leve com o seu, num brinde silencioso. Mas, de súbito, puxou-o contra si e arrastou-o contra a parede da casa, de onde não poderiam ser vistos de nenhuma das cridas, encosto o corpo todo ao dele, como fizera na praia, e mergulhou a boca na sua, com a mesma ansiedade sôfrega que o deixara louco.
-Luís, moro aqui de saudades de o ver, de o sentir assim, contra mim!
-Ann, por favor, não me diga isso a mim! Nenhum homem jamais sentiu saudades de uma mulher como eu sinto de si.
- Venha, vamos sentar-nos, é melhor.
A custo, Luís Bernardo despegou-se do seu corpo e veio sentar-se, deixando prudentemente uma cadeira de intervalo entre ambos.
-Ann,por que quer o David falar comigo?
- Não faço ideia, Luís. só me avisou que o tinha convidado par jantar porque precisava de falar consigo.
- Será que desconfia de nós, que descobriu alguma coisa?
- Não me parece possível. Mas ele é muito intuitivo, pode ter adivinhado sem ter descoberto coisa alguma.
Você não lhe contou nada, não lhe deu nada a entender?
- Não, Luís,palavra que não.
- Nem tem planos para o fazer?
Ela olhou para ele como se aquela pergunta fosse a mais inesperada de todas.
- Eu? Eu não tenho planos de nada. aprendi a não ter planos de nada. Deixo correr as coisa, vivo os dias um de cada vez. assim, há sempre dias tristes e dias felizes.Se planeasse as coisas e os meus planos não dessem certos, todos os dias seriam tristes. Não, Luís, não tenho planos de lhe contar nada... nem de deixar de o ver a si, nem de alimentar remorsos.
Luís Bernardo ficou calado. Ficaram ambos calados. a chuva, que cessara havia uma meia hora, despertara o canto dos pássaros nocturnos que vinha lá de trás,do obó.Do lado oposto, para além do muro do jardim, vinha o som cadenciado da rebentação do mar. A "rosa-louca" deixara o seu perfume ensopado na humidade que flutuava no ar. Apesar de tudo, daquela espécie de desalento, que parecia agora habitar em ambos, ele desejou poder ficar assim para sempre. Mesmo que fosse em S. Tomé com Ann a seu lado, num jardim perfumado de silêncio e humidade.
Passado um pouco, ouviram a porta do jardim que batia e a voz de David chamando por Ann.
- Aqui, no jardim, respondeu ela despertando do seu torpor.
David vinha afogueado de calor, ensopado pela chuva, as botas cobertas de lama.
Ah, Luís, desculpe-me o atraso. Deu um beijo a Ann e cumprimentou o amigo.
- O meu cavalo começou a mancar à entrada da cidade e tive de vir com ele pela arreata. Vejo que Ann lhe serviu uma bebida, espero que não esteja à espera há muito tempo! E, virando-se para a mulher, continuou:
- Amor, preciso só de tomar um banho e mudar de roupa. Podes manda servir o atar daqui a vinte minutos. Volto já!
E entrou em casa. Ann levantou-se a seguir, e encaminhou-se também para casa.
- Bem, vou tratar do assunto. Luís, espere aqui dentro da sala que está mais fresco.
A salinha estava mergulhada numa semiescuridão, apenas iluminada por um candeeiro com duas velas e abat-jour de tecido vermelho que aproveitava a fraca voltagem das duas horas de iluminação diária da cidade.Como era seu hábito, Luís Bernardo ficou de pé, percorrendo as fotografias da Índia que ocupavam várias molduras de prata sobre as mesas. David falara-lhe já tanto da Índia ue ele reconhecia naquelas fotografia quase um país familiar e que o fascinava. "Será que um dia, quando sair deste buraco, quando entrar num navio para ir devorar o mundo e não apenas regressa a casa, terei oportunidade de ir à Índia?" - pensou para consigo e a ideia pareceu-lhe, de repente, tão impossível, tão longínqua, que até sorriu do seu devaneio.
Ann demorava-se e ele começou a sentir-se estupidamente intruso, como se fosse um convidado indesejado.Mas ela apareceu ao fim de cinco minutos, e a tristeza que, ainda há pouco lá fora ele julgara detetar nos seus olhos, parecia agora ter-se desvanecido.
- Está tudo tatado, temos um quarto de hora só para nós. Vem cá.
Ela encostara-se à parede de passagem ente salas e estendia-lhe um braço chamando-o. De novo o recebeu de corpo inteiro, enrolando-se no dele, e de boca aberta e húmida de desejo. Pegou-lhe numa mão e guiou-a até ao peito.Ele sentiu com um arrepio, que ele não tinha nada entre a carne e a leveza do vestido de algodão. Ann desapertou dois botões da frente do vestido e mergulhou lá dentro a mão dele. Luís bernardo sentiu outra vez a consistência de esponja macia daquele peito, a dureza dos bicos ao aflorar dos seus dedos. Puxou-lhe um pouco o vestido mais para baixo e mergulhoulá dentro alíngua e a cabeça, enquanto segurava cada peito com as mãos em concha com uma sofreguidão de garoto, descobrindo pela primeira vez o corpo de uma mulher. De repente, sentiu a mão dela que se viera a atracar entre as suas pernas, apertando-lhe o sexo que parecia rebenta dento das caças justas. Os dedos dela começaram a ensaiar desabotoar-lhe a braguilha das calças e ele julgou que ia explodir.
- Não, Ann, por favor! Isto é uma loucura: pode entrar aí alguém de repente, uma das criadas ou o David. Não, não posso, estou em casa dele!
- Schiu! - a mão esquerda dela não lhe largava o sexo, enquanto a direita continuava a sua luta para lhe abrir os botões das calças - O David está no duche, vim de lá ainda agora e dei ordem às criadas para só virem acender as velas da sala de jantar quando ele descesse. Temos tempo! Eu quero-te , agora Luís! Agora!
Tinha conseguido abrir-lhe as calças e tirara-lhe o sexo para fora, sem nunca o largar. Com a outra mão levantou o vestido até quase à cintura e puxou-lhe o braço para entre as suas pernas para que ele reparasse que ela também não trazia nada por debaixo do vestido. Ocorreu-lhe então que fora isso que a demorara á instantes, lá dentro. Roçou-a com os dedos entre as pernas, procurando a sua abertura e sentiu-a molhada. Apertertuou-a entre dois dedos e depois deixou que um fosse deslizando lá para dentro, primeiro devagar, depois mais fundo mais firmemente. Ann gemeu baixinho. a sua língua parecia ter enlouquecido dentro da boca dele, tinha a respiração pesada e o peito seminu arfante. Pegou-lhe no sexo e encaminhou-o para o centro do seu desejo.
- Luís, vem! Por amor de Deus, vem ou eu rebento!
Aquilo era uma perfeita insensatez, ele já não conseguiria parar, mesmo que alguém entrasse e os apanhasse assim. Imaginou que David descia de repente a escada e eles a continuarem, como possessos, mesmo a sua frente. Agora, ela tinha o vestido aberto à frente, quase até à cintura, as bocas pareciam grudadas uma na outra há séculos e sem desfalecimento. Encostou-a ainda mais à parede e, à força de rins, e sempre com a mão dela a indicar-lhe o caminho, começou a penetrá-la de baixo para cima, lentamente a princípio, mais intenso e fundo a seguir e depois quase à bruta, em golpes sucessivos até explodir dentro dela, no mais fundo que alcançou, no exacto instante em que sentiu todo o corpo estremecer de encontro ao dele. Quedaram-se assim, imóveis, tanto quanto o desconforto de amos o permitiu. Depois, aos poucos, sentiu a respiração dela a regressar à normalidade, sentiu o desejo que ainda há pouco o desvairava ser substituído por uma ternura inexplicável e avassaladora. Mas era tudo. Já não podia prolongar mais aquele desfio á sorte. Afastou-se dela tão devagar quanto pode, repelindo com suavidade os braços que insistiam em puxá-lo para si, abotoou-se à pressa, como ouvido apurado à escuta, puxou-lhe o vestido para baixo e deixou que ela abotoasse sozinha o corpete. Deu-lhe um beijo suave na boca e em cada face e, antes de recuar para o sofá em frente, como um ladrão retirando-se dum assalto, murmurou em portugês:
-Amo-te
‘Miguel de Sousa Tavares’
“EQUADOR"
Sentado entre um e o outro, Luís Bernardo, por seu lado, procurava seguir o mais npossível a conversa de David, o que lhe permitia evitar olhar para Ann. Sentia-se ainda molhado dela, sentia ainda o volume do seu peito na palma das mãos, o sabor da sua boca, ouvia ainda os gemidos dela no seu ouvido, e deu consigo de novo excitado até a um ponto quase insuportável só com a recordação do que acontecera meia hora antes, ao mesmo tempo que olhava para o homem, seu amigo, cuja mulher acabara de possuir na sua própria casa. Não conseguia notar qualquer diferença naquilo que sentia por David: era o mesmo homem inteligente, sincero, que prezava a sua companhia e a sua amizade, que não desdenharia em qualquer lugar ou em qualquer circunstância.
Mas, sim, havia agora uma subtil diferença. Qualquer coisa que – reconheceu com vergonha – não vinha de David mas dele próprio: uma insidiosa, pérfida realidade. Uma indecente e ilegítima sombra de ciúme, como se fosse David e não ele, quem lhe disputava a mulher. Imaginou-se mais tarde, nessa noite, às voltas com a recordação daquela cena na solidão do seu quarto, enquanto ali, naquela casa, no andar de cima, David fazia amor com Ann, conforme era seu direito e devia ser costume de ambos. Com horror, deu-se conta que essa ideia nada tinha de improvável, antes pelo contrário: Ann gostava de sexo, isso já ele tinha descoberto por si e de certeza que ela não o tinha descoberto com ele. Uma mulher que se entregava como ela, não o fazia, seguramente, apenas por paixão. Seria ela, mesmo assim, capaz de fazer amor com dois homens na mesma noite, de fazer amor com o marido, sentindo ainda a marca de outro homem dentro de si? Olhou de lado para Ann tentando ler a resposta no seu olhar, mas ele devolveu-lhe apenas um sorriso de sem qualquer significado. Sentiu-se perdido, a cabeça tonta do vinho que bebera, uma agonia que subia pelo peito acima, um aperto de terror na garganta. Queria fugir, apanhar ar, se calha até vomitar. Ela pareceu adivinhar, finalmente, o seu padecimento.
- Bem, e se fôssemos lá para fora, que já está mais fresco?

- Peço desculpa, mas vou deixá-los, vocês os dois têm coisas para conversar e eu estou morta de sono, vou directa para a cama.
Despediu-se de D avid com um beijo leve na cara e de Luís Bernardo com um aperto de mão , apenas ligeiramente mais prolongado e envolvente que o habitual. Luís Bernardo agradeceu-lhe em silêncio, com o olhar. Pareceu-lhe que ela lhe estava a enviar uma mensagem clara: “adivinhei s teus maus pensamentos e, por isso, fica tranquilo: hoje, pelo menos, fui só tua”. E só isso bastou para ele devolver a coragem que ainda há instantes lhe desfalecera por completo.
(…)
De repente , deu-lhe uma ânsia de fugir dali, de se voltar a ver sozinho em casa, de descer até à praia, tomar um banho no escuro, um banho que o lavasse de tanta sujidade e de tanta mentira. Ia começar a andar de volta quando ouviu distintamente a voz dela, a sua voz de fêmea no acto, a voz que o perdera, que o fizera confundir o corpo com o coração, o desejo com a paixão:
- Yes, yes, come!
E isso foi mais forte doa-se do seu próprio sofrimento que ele. O ciúme é irracional: alimenta-se do seu próprio sofrimento e é como se só conseguisse saciar-se e acalmar-se quando tudo o que de pior imaginou se torna real, nítido e visível. O ciúme é uma dúvida doentia que cresce como um cancro e a que só a certeza de já não haver lugar para dúvidas, pode trazer, pelo menos, o bálsamo de pôr fim a essa angústia, a esse enxovalho de viver permanentemente, à procura dos sinais da traição. Quanto mais chocante fora a evidência, quanto mais real for o real da traição, mais o ciúme se sente recompensado, redimido, quase digno de respeito. Por isso, ele deu consigo a percorrer os passos que lhe faltavam até poder espreitar, através das cortinas, para dentro do quarto. E, passo, após passo, aproximou-se então do seu encontro com o destino, ao qual viera.
Ann estava deitada de costas na cama, inteiramente nua, o cabelo espalhado em desalinho pela almofada, a cara ligeiramente corada, de olhos cerrados e um dedo dela própria enfiada na boca, o seu peito fantástico erguido apontado ao tecto, as pernas abertas, uma dele pendente sobre a borda da cama. Gemia baixinho e o seu copo agitava-se ao ritmo com que ele a ia penetrando. Ele estava sentado sobre ela, as pernas enfiadas debaixo das pernas de Ann, o copo direito e as costas reluzindo de suor, empurrando-se com fúria para dentro dela. Mas nem as costas eram brancas nem o cabelo loiro, o homem que fazia amor com Ann, jamais viera da Escócia, e nunca fora seu marido. Era negro de Angola, chamava-se Gabriel e Luís Bernardo, juntamente com David, resgatara-o de uma morte certa na Ilha do Príncipe.
Saltou da varanda sobre a árvore, o coração parecia saltar-lhe da boca…
‘Miguel de Sousa Tavares’
“EQUADOR"
9.
"Outra vez a seus pés me lanço aflito,
meu Padre Confessor. Nize formosa,
banhada em pranto, meiga e carinhosa
um dia entrou no quarto em que eu habito.

Chegou-se a mim, beijou-me, e em tal conflito...
se Vossa Reverência rigorosa
a visse tão galante, e tão airosa,
talvez cometesse algum delito.

Nua nos peitos, nua na cintura,
nua nas coxas... nunca a vi mais bela,
mais branca toda do que a neve pura."

"Com um chicote não deu nessa michela?
Se isto não fez, que fez, vil criatura?"
"Que havia eu de fazer? Eu pus-me nela."
BOCAGE
OOOOO
☼PPPPP☼
PACHMANN
***********************************************************************PAISAGEM – Mas de repente as alturas começam a iluminar – se de novo com uma luz mais fria, mais pálida; e repare – se no azul intenso que, diga – se, não deixou de brilhar; aparece a lua; espelho altivo e redondo, o seu disco prateado está suspenso lá fora entre dois dos mais importantes cumes, e aquilo que, havia pouco ainda, fora quadro de pormenores coloridos começa a tornar – se um esboço de contornos brancos e pretos com pequenas estrelas de brilho incerto. [Stefen Zweig – Embriaguês da Metamorfose, 38, 2º., 7f.]
***************************************************************************PINTORES
De repente parece o homem a quem saiu a fava do bolo – rei de Jacob Jordaens, a cara a transpirar de bem – estar e por causa do vinho. Faz contínuos brindes à sobrinha e está prestes a mandar vir champanhe quando a tia o vigia, divertida, lhe coloca sobre o braço uma mão reprovadora e lhe recorda as recomendações do médico. [Stefen Zweig – Embriaguês da Metamorfose, 43, 6.]
☼SSSSS☼
SABBATH
******************************************************************************1.SOM (juntos, todos) – Tal como zumbem os ouvidos de quem, habituado aos suaves sons do violino e da flauta, ouve pela primeira vez o ribombar dos tutti de uma grande orquestra, também os seus sentidos vibram perante essa revelação do jogo majestoso das cores na (…)[Stefen Zweig

STYLE

Notre tendance c'est de fuir pour le style national.
Pouvez-vous, s'il vous plaît, donner un coup de pouce?

[Vous pouvez faire votre correction ci-dessous où l’on lit Postar um comentário (Faça um comentário) - https://www.blogger.com/comment.g?blogID=2794308183511852462&postID=2350150923828220194]

L’histoire de ce roman, où Júlio Dinis fait une vigoureuse critique au fanatisme religieux et hypocrisie du clergé, a lieu au XIXe. Siècle à Minho, dans le nord du Portugal.
[ENGLISH The history of this novel, in which Júlio Dinis strongly criticizes the religious fanaticism and hypocrisy of the clergy, takes place in Minho in the 19th century, north of Portugal.] - http://forum.wordreference.com/showthread.php?t=1378021

L’histoire de ce roman, où Júlio Dinis fait une vigoureuse critique du fanatisme religieux et de l'hypocrisie du clergé, a lieu au XIXème siècle à Minho, dans le nord du Portugal

domingo, 1 de fevereiro de 2009

ESTILO

La tendencia de nosotros es de huir para el estilo nacional
Puede usted, por favor, dar una pequeña ayuda?

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Se usted lo quiera puede escribir en comentarios o en el foro
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1.
A Morgadinha dos Canaviais
Autor : Júlio Dinis

PORTUGUÉS - A história deste romance, em que Júlio Dinis faz uma forte crítica ao fanatismo religioso e à hipocrisia do clero, passa-se no séc.XIX, no Minho, norte de Portugal. Através do protagonista, Henrique de Souselas, o autor, que além de escritor é médico, defende, mais uma vez, a sua crença de que a vida no meio rural tem uma acção benéfica em quem se encontra deprimido pela rotina da vida da cidade.

ESPAÑOL

La historia de esto romance en Julio Dinis, hace una fuerte crítica al fanatismo religioso y a la hipocresía del clero. Tiene lugar en el siglo XIX, en la provincia del Minho, en el norte de Portugal. A través del protagonista, Henrique de Souselas, el autor que es también médico, defende una vez más su creencia de que la vida en el medio rórale tiene una acción benéfica en todo aquel que se encuentra deprimido por la rutina de la vida de la ciudad.

La historia de este romance , en el cual Julio Dinis, hace una fuerte crítica al fanatismo religioso y a la hipocresía del clero. Tiene lugar en el siglo XIX, en la provincia del Minho, en el norte de Portugal. A través del protagonista, Henrique de Souselas, el autor que es también médico, defiende una vez más su creencia de que la vida en el espacio rural tiene una acción beneficiosa en todo aquel que se encuentra deprimido por la rutina de la vida en la ciudad.

La historia de esta novela, donde Julio Dinis hace una fuerte crítica al fanatismo religioso y a la hipocresía del clero. Tiene lugar en el siglo XIX, en la provincia del Minho, en el norte de Portugal. A través del protagonista, Henrique de Souselas, el autor, que es también médico, defiende una vez más su creencia de que la vida en el medio rural tiene una acción benéfica en todo aquel que se encuentra deprimido por la rutina de la vida de la ciudad

STYLE

1.
PORT - A história deste romance, em que Júlio Dinis faz uma forte crítica ao fanatismo religioso e à hipocrisia do clero, passa-se no séc.XIX, no Minho, norte de Portugal.

ENGLISH - English - The history of this novel, in which Júlio Dinis does a strong critique to the religious fanaticism and the clergy hypocrisy, take place in Minho in the XIXth century, north of Portugal.

The history of this novel, in which Júlio Dinis strongly criticizes the religious fanaticism and hypocrisy of the clergy, takes place in Minho in the 19th century, north of Portugal.

STIL

La tendencia de nosotros es de huir para el estilo nacional
Puede usted, por favor, dar una pequeña ayuda?
Se usted lo quiera puede escribir en comentarios o en el foro

Unsere Tendenz ist zu fliehn unseren national stil, so die Einheimischer finden es
unangepasst (eng. strange).
Können Sie den Satz verbessern, bitte?
Wenn Sie es wollen, können Sie es in Kommentare schreiben oder eine private message senden.
Danke

1.
PORT - A história deste romance, em que Júlio Dinis faz uma forte crítica ao fanatismo religioso e à hipocrisia do clero, passa-se no séc.XIX, no Minho, norte de Portugal.

DEUTSCH - Die Geschichte von diesem Roman, wo Júlio Dinis stark kritisiert den religiösen Fanatismus und die Heuchelei des Klerus, nimmt in Minho, in dem 19. Jahrhundert, im Norden Portugal, platz.

Die Geschichte des (Genitiv) Romans, in dem Júlio Dinis den religiösen Fanatismus und die Heuchelei des Klerus stark kritisiert, spielt in Minho, im 19. Jahrhundert, im Norden Portugals.